“Na área de supply chain e comércio exterior apenas 10% do trabalho depende de esforço físico e os outros 90% se resumem em informação”.
A frase acima é de um autor anônimo e sintetiza muito bem a realidade do dia a dia de quem atua no comércio exterior brasileiro.
Todos os dias são inúmeros e-mails, documentos, follows, ligações, mensagens que vão se acumulando e fazendo do profissional de tecnologia no comércio exterior um especialista em gerenciar informações relevantes.
Quando olhamos para os movimentos mais recentes do mercado de comex, vemos que essa realidade no trato das informações está cada vez mais em evidência nas prioridades de investimentos dos principais intervenientes.
Neste cenário, fica cada vez mais evidente o conceito de COMEX 4.0, onde todas as principais inovações tecnológicas e comportamentais possuem como matéria-prima principal a informação e suas aplicações estratégicas.
Você já ouviu falar no termo COMEX 4.0? Vamos te ajudar a não ficar de fora do que está acontecendo na sua área de atuação.
A quarta revolução industrial
Antes de entender o que é o COMEX 4.0 é importante destacar um movimento global que surgiu em meados dos anos 2011 e que desde então ganha relevância ano após ano. Estamos falando da chamada Quarta Revolução Industrial.
Esta revolução se caracteriza pela conectividade entre diferentes sistemas, automatizações de processos, análise, gestão e proteção de dados, além de tecnologias com a inteligência de operar em todas essas frentes.
O que vemos hoje dentro de empresas que já operam no modelo de Indústria 4.0 são fábricas inteligentes, com seus sistemas e máquinas interconectados, fornecendo dados em tempo real, agilizando a tomada de decisões e diminuindo os gaps existentes pela falta de informações qualificadas.
Os principais fatores tecnológicos advindos desta revolução são as redes Blockchain, BI – Business Intelligence, Big Data, API – Applications Program Interfaces e Robotização através de Inteligência Artificial – IA.
Agora que entendemos um pouco mais sobre o modelo de negócio que esta revolução 4.0 trouxe à tona, vamos tentar entender melhor juntos como funciona o COMEX 4.0, quais suas principais características e o que você precisa entender para não ficar para trás.
Menos papel, mais dados
Notavelmente, quem atua há mais tempo no mercado internacional consegue perceber com mais facilidade as diferenças que as evoluções tecnológicas proporcionaram às rotinas de um profissional de comex.
Funções básicas como a digitação de DI’s, confecção de drafts e emissões de documentos vêm deixando de serem manuais, se automatizando. A tendência é que isso seja visto em todos os principais processos de importação ou exportação.
A digitalização dos processos documentais do mercado internacional sempre foi um sonho que recentemente ganhou um importante incentivo para se tornar 100% realidade. No dia 24 de novembro de 2020, por meio do Decreto Nº10550 o Governo Federal Brasileiro regulamentou a utilização da assinatura eletrônica e de redes blockchain nos procedimentos aduaneiros de comércio exterior no Brasil.
O grande problema da digitalização de qualquer processo documental sempre foi a segurança e credibilidade destes, haja vista a facilidade com que dados se perdiam ou eram copiados na grande rede. Com a blockchain essa insegurança deu lugar à uma imensidão de possibilidades de compartilhamento de dados em tempo real.
Uma rede blockchain tem como premissa a possibilidade de registros únicos para cada “movimento” feito no ambiente virtual, isto é, há um dado para qualquer ação que seja tomada dentro da rede.
Em outras palavras, qualquer documento, arquivo, envio ou mensagem gera um bloco de dados que é único e insubstituível, mesmo que se cometa algum erro, na tentativa de tentar corrigi-lo são gerados dois registros, um do erro e outro da sua correção, por exemplo.
Além de garantir a unicidade dos dados, a blockchain proporciona a rastreabilidade de qualquer informação gerada dentro do ambiente compartilhado tornando o acesso à informação desejada ainda mais ágil e facilitado.
É importante frisar que apenas acessar uma informação que você compartilhou em uma rede blockchain aqueles usuários que previamente tenham recebido a sua permissão ou da rede a qual você pertence.
Na prática, essa tecnologia permite que o envio e assinatura de Conhecimentos de Embarque (BL’s) sejam feitos digitalmente sem a necessidade do documento físico, por exemplo. O arquivo desses documentos, bem como transações financeiras internacionais além de se tornarem mais seguras foram otimizadas e o que se espera é que essa mesma dinâmica seja percebida em todas as etapas da operação internacional.
Menos operações manuais, mais intervenções estratégicas
O medo de muitos profissionais quando se fala de tecnologia é cair no ostracismo e ser substituído por alguma nova invenção tecnológica.
O COMEX 4.0 precisa de profissionais que saibam analisar informações de forma inteligente e tomem a decisão adequada para cada etapa de uma operação e por isso, esse medo que tanto se vê, acaba sendo um limitante apenas para os profissionais que não estejam dispostos desenvolver novas skills ou aprimorar aquelas que já possuem em evidência.
Hoje vemos muitos players que já possuem em seus softwares de gestão de tecnologia no comércio exterior diversas robotização, que integram sistemas variados e centralizam em uma interface apenas, todos os dados relevantes, de acordo com a necessidade de quem comanda os dashboards, KPI’s, follow-ups e registro em geral.
Um bom exemplo de como a inteligência artificial é aplicada ao dia a dia do comex pode ser vista na integração entre a interface geradora da Nota Fiscal de Exportação com a aplicação que gera a DU-E (Declaração Única de Exportação) onde, com um clique, um analista de comércio exterior pode hoje já fazer o registro da DU-E, geração de uma RUC (Referência Única da Carga) e a emissão de um Draft do BL (Bill of Lading).
Outro exemplo bem corriqueiro é visto na utilização de robotização que fazem pesquisas contínuas para verificar status de confirmações de embarque e chegada, status de desembaraço, follows e arquivos de documentos tudo de forma automática, sem a necessidade de haver uma pessoa fazendo essas pesquisas manualmente.
O papel do profissional se foca em buscar soluções inteligentes e estratégicas para as demais questões inerentes à complexidade que temos em nossa legislação aduaneira brasileira.
Um profissional do COMEX 4.0 tem mais liberdade para estabelecer com maior qualidade no relacionamento com clientes e fornecedores e possui muito mais informações relevantes para traçar mudanças de rotas nos procedimentos com maior assertividade e agilidade.
Nesta grande revolução informacional, nota-se ainda, uma atuação protagonista da Receita Federal Brasileira com intuito de incentivar a adequação às novas tecnologias. É o que vemos por exemplo na implementação do NPI (Novo Processo de Importação) em que há como premissa central, a centralização de informações no Portal único (SISCOMEX), se valendo da integração entre os sistemas dos órgãos fiscalizadores, unificação de dados (masterdata) através do Catálogo de Produtos e digitalização dos processos aduaneiros.
Esse movimento da autarquia maior do comércio exterior dá o norte para que os intervenientes busquem, de maneira segura e correta, adentrar ao novo COMEX 4.0.
Se desejamos realmente fazer parte desta nova era do Comércio Exterior precisamos entender que as novas tendências tecnológicas provenientes de outras áreas vieram para ficar, e questões como blockchain, inteligência artificial, masterdata e dashboards são imprescindíveis para a formação do profissional de comex dos próximos anos.
Referência: l1nq.com/m8aJJ
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